Em 1932, por ocasião da Revolução Constitucionalista, aderindo ao alto espírito cívico que predominava na época, o nosso grupo escoteiro se atira, de corpo e alma, no serviço à comunidade paulista. Além de executar tarefas na cidade, decide mandar para o fronte de batalha seus chefes escoteiros maiores de 15 anos para servir nos hospitais de sangue, junto à Cruz Vermelha Brasileira. Somente para se ter uma idéia do trabalho realizado na ocasião, segue abaixo um trecho do prefácio da segunda edição do livro preparado pelo Chefe João Mós que narra em detalhes a partição da Boy Scouts Paulistas durante a Revolução.
“As equipes da Cruz Vermelha, com suas divisões de especialistas em transportes, abastecimento, farmácia, medicina de campanha, etc.; gente de escol e altamente qualificada, como provaram do começo ao fim, julgaram aqueles meninos de calções curtos um estorvo”. Todos pensaram assim, alguns mais francos disseram. Essa situação durou uma semana. Mais uma semana e passamos a ser tolerados para, em seguida, sermos considerados indispensáveis.
Prova-o a ordem emanada da Chefia da Cruz Vermelha em campanha, de que todos os núcleos a serem implantados deveriam incluir escoteiros. O trabalho notável da Cruz Vermelha se caracterizaria dali por diante, em todos os setores, pela participação escoteira. Nos hospitais de base preenchiam todos os claros guiando ambulâncias, providenciando abastecimento, trabalhando no preparo de medicamentos, assistindo aos feridos. Cada posto avançado da Cruz Vermelha compreendia tipicamente um médico, um enfermeiro e um escoteiro."
"....Som surdo do troar dos canhões e das granadas que passam sibilando. Ambulância geme nos freios diante do hospital de campanha, trazendo mais feridos. Na sala de operações a ansiedade é geral e os olhos dos presentes vão do ferido que está sendo atendido com parada cardíaca ao teto, pois todos temem que a próxima pode cair aqui. O cheiro do clorofórmio entorpece. As mãos tremem. E como conseqüência algumas coisas não são mais feitas da maneira ortodoxa. Quando o nervosismo parecia atingir a todos o cirurgião baixou a máscara que tinha sobre a boca e, como voz pausada e firme, disse: “Senhores, parece que o único que tem calma aqui é o escoteiro.”
Escoteiro junto da equipe da Cruz Vermelha na cidade de Guaratinguetá
Escoteiros que serviram junto às linhas de combate
A bravura, heroísmo e eficiência desses jovens recebeu os mais altos elogios da sociedade, inclusive internacionais e do próprio fundador, Lord Baden-Powell.
Anualmente esse fato de orgulho para nosso grupo é celebrado durante as festividades de 09 de Julho com participação de centenas de escoteiros nos desfiles cívicos ao redor do estado de São Paulo.
Uma informação importante que muitas vezes geram dúvidas é sobre as entidades escoteiras que participaram durante a revolução. Além da Boy Scouts Paulistas, houveram participantes pertencentes a Cruzada Escoteira, entidade ligadas a Grupos Escolares que praticavam uma iniciativa de escotismo, não completa mas que se assimilava em muitos aspectos ao escotismo reconhecido pela comunidade global. Apesar da fundação da UEB em 1924, muitas iniciativas escoteiras caminharam de forma paralela durante os primeiros anos de vida do Escotismo no Brasil.
Quer saber mais sobre a participação escoteiros na revolução? Visite nossa sessão de "Documentos Históricos" , lá colocamos a disposição diversos documentos da época, com destaque para a carta escrita por BP e o livro completo a respeito da Revolução.